free as a weird

quinta-feira, novembro 11, 2004

Continuando com algum atraso a cobertura já atrasada da Mostra. A OITAVA COR DO ARCO-ÍRIS, o primeiro filme rodado em Cuiabá, é de um mau gosto danado. A cidade já é feia de um modo geral, mas o cara consegue escolher os lugares mais grotescos. Mas isso, claro, é o de menos, especialmente com a coleção de momentos constrangedores que é o filme. Algo de grotesco, mesmo que um grotesco inocente. OH, HOMEM! é pra ver.

SANGRE foi um filme que todo mundo na sala parece ter gostado – isso inclui os amigos – com o qual não bati muito. Me interessa um bocado mais o personagem do irmão mais novo, e fiquei bastante dispersos em boa parte das cenas com o irmão mais velho. Encarnei com a mãe também. Segurei o sono porque em filme bem filmado é impossível de dormir. Em suma: gostou pouco.

BEM ME QUER, MAL ME QUER é reportagem jornalística perdida no cinema – à momentos muito bons com alguns depoimentos, tal qual à os lamentáveis. A situação-problema parte de uma completa não-posição assumida pelo filme, até pela impossibilidade de se alcançar esse trunfo já que mal ou bem, essas entrevistas foram editadas e montadas em uma ordem X. Mas enfim, é um filme bastante simpático, e tem um lado de procurar entrevistar tudo que é critico/cineasta presente que é de bastante interesse.

PAPAI NOEL ÀS AVESSAS, imperdível no circuitão em dezembro. Tem uma caralhada de problemas, mas sobrevive – e um bocado bem – à eles. Melhor que MUNDO CÃO. OLHOS DE VAMPA é o cinema perdido na sua própria história, cenas antológicas. A “cena Blow-Up” é fantástica. Joel Barcellos vai morder você. (???)

Tá perto do fim (pulei bastante coisa no final das contas). A FERIDA é um filme de bastante interesse até a cena que toca “Atmosphere”, ali vira um belo filme. Impressionante em seus melhores momentos. Lá pela altura da segunda hora de filme, confesso que comecei a ficar de saco cheio, mas fui atacado pela cadeira do MIS também. Recuperei o ânimo na já citada cena. Deu vontade de assistir em pé.

A última coisa que eu esperava a essa altura do campeonato (além de voltar a ter esperanças que o SP seja campeão) era gostar de um filme do Ozon, e o pior, gostar pra caralho de um do Ozon. Acho o filme bonito, mesmo. Uso da música é muito bom. Confesso que o primeiro episódio me deixou com pé atrás – embora tenha pelo menos um momento que gosto bastante nele – mas gosto bem mais dele após ver os outros, faz ele descer bem melhor. Acho em particular o episódio do casamento fodaço mesmo. Ah, não falei o nome do filme: 5 X 2. Sessão seguida de discussões com Cláudio detestando o filme. Discutir com amigos é muito bom.

A NOIVA DAS TREVAS: tentei dormir e não consegui.

Ainda devo textos pra revista.

domingo, novembro 07, 2004

Bom, continuando. 20 DEDOS é um filme de bastante interesse, e embora eu veja problemas na forma como a Mania Akbari se utiliza do digital – por muitas vezes ficava a impressão de uma emulação vazia do meio – é muito forte a forma como ela articula o que coloca em cena – todas as discussões acerca de relações no Irã, bem menos simplistas do que podem parecer – com o discurso, o lado colocar em questão triunfando sobre as certezas. Nem tudo me agrada, mas acho mais do que digno. Não deixou de ser um preparativo para o dia seguinte onde os Kiarostamis novos viriam aos nossos olhos.

Em aguarde da noite, fui pingando pelos cinemas. MATE SEUS ÍDOLOS não é de grande interesse apesar da música em boa parte ser boa, de um modo geral pega pesado demais em boa parte das tentativas de contrapor movimentos, e desperdiça alguns depoimentos interessantes. Não chega a ser um desastre, mas é bastante fraco.

Então, DEZ SOBRE DEZ foi muito mais foda antes da sessão, com Manoel de Oliveira quietinho solitário em seu canto na primeira fileira (e posteriormente fugindo do Cakoff), mas principalmente o momento Oliveira-Kiarostami que só pode ser compreendido por quem foi testemunha ocular do fato. Mas então, o filme tem momentos isolados muito fodas, o final e o outro ainda no começo. Mas como um todo é uma aula, ainda que uma puta aula de cinema, não deixa de ter um lado didático que me incomoda, além do que as aulas como um todo me incomodam no geral – e aí não tendo uma possibilidade de discussão (afinal, não há contato físico com Abbas durante essa aula), me é sempre um bocado arrastado e complicado. Ainda assim, vale bastante conferir, nem que seja pra ouvir o melhor momento de longe dessa aula, que é quando Kiarostami menciona Hitchcock. CINCO é bastante simples, esquecer tudo e reaprender a ver cinema. Aí sim: mestre dos mestres. Pato neles.

FEMINICES eu calhei em ver duas vezes por coincidência, uma sessão complicada no Arteplex cheio de problemas no som, e outra tranqüila numa sala bem menos boa, no Unibanco. Não sei se seria o melhor filme do Domingos, mas tem momentos onde ele certamente o é. Um dos melhores usos do suporte digital por essas bandas também, tanto na economia de gasto como na liberdade formal que o filme adquire e trabalha muito bem. E Domingos é um cara foda.

OLD BOY é um dos filmes dos quais mais aguardava em ambos os festivais, várias testemunhas viram que eu até cheguei a separar um horário pra possibilidade de rever o filme. Isso talvez tenha contribuído para que eu gostasse tão pouco dele. Park Chan-wook tem todo um domínio de cena que prende e interessa, mas esvai-se por inteiro com tolisses narrativas. Lembra Takashi Miike, mas também é o completo oposto do japonês: Miike se preocupa com cinema, Park com um neo-humanismo meio assustador com base em sacrifícios bastante estranhos. Acho algumas cenas bastante patetas (o clímax sobretudo), mas confesso que tem pelo menos uma cena de que gosto bastante, do espelho no flashback. Mas é só.

Sobre LOS MUERTOS, falo depois. MEMÓRIAS DEL SAQUEO é interessante no começo, bastante forte a princípio sobretudo na forma como Solanas expõe-se como panfletário orgulhoso e transverte isso em cinema com habilidade. Mas vai se perdendo qualquer interesse com o tempo, já que se tem um cuidado interessante com imagem-som, é modorrento como panfleto. De bater cabeça. Não me incomoda os políticos jogando golfe ou basquete, nem as imagens das crianças no lixão, mas sim a narração (e tudo que nela é dito) do cineasta. Não acho o pior filme do mundo, inclusive acho que vale se esforçar pra ver, mas ainda assim gosto pouquíssimo.

Revi O JOGADOR DE CARTAS. Esse filme é foda. Só pra constar.

HERENCIA é um filme que não funciona do início ao fim, mesmo que esteja muito longe de ser mal intencionado. Tem alguns dos piores cortes nos últimos tempos, do tipo “cineastas sem amigos”. O CÁRCERE E A RUA virou aquecimento Manoel de Oliveira já que a sessão de NINGUÉM PODE SABER era em DVD e sendo exibido achatado – durei quinze minutos lá e subi a rua Augusta. O CÁRCERE... é um filme interessante que não deslancha como cheguei a pensar que pudesse em alguns momentos. Acho que não funciona como um todo porque se prende por demais em uma estrutura pré-pensada, quando o tipo de documentário que pretende realizar pede mais espontaneidade. Mas longe de ser mal filme.

Rei ensandecido, bobos da corte por todos os lados, pesadelos que são realidade, realidades que são pesadelos, estátuas que ganham vida, vida que se torna estátua, olha quem é que está te olhando. Filme assustador. Isso tudo é O QUINTO IMPÉRIO: ONTEM COMO HOJE.

Basta por hoje. Próxima leva tento escrever amanhã.