free as a weird

sábado, março 13, 2004

Só é moderno quem é eterno.

O Pagamento é um belo filme. Não necessariamente um belo filme de John Woo. Ou seja: a coisa é complicada. Mas é um belo filme. E Ben Affleck fazendo boçais é sempre genial.

quarta-feira, março 10, 2004

Preciso comentar uma cambada de filmes, que foram aos poucos se acumulando. Alguns deles mais a experiência em si do contato com os filmes do que necessariamente o filme. Enfim. O primeiro da trupe foi Sangue Ruim, do Leos Carax, numa manhã pós noite sem dormir de sábado. Momento bizarro para um filme estranho. O único filme de Carax com o qual eu tive contato anteriormente fora Boy Meets Girl, e não nego que embora tivesse muitas coisas que chamavam fortemente a atenção (o plano dos pés, uma seqüência linda perto do começo envolvendo dança, a fotografia em preto & branco magistral), mas me passava o tempo todo um sensação de irregularidade, alternando estes belos momentos com instantes consideravelmente modorrentos. Nesse aspecto o contato com Sangue Ruim foi quase de um choque, pois embora tivesse esperanças não aguardava gostar tanto do filme. As cores fortes (o vermelho em destaque) da fotografia dando espaço para arroubos da genialidade formal, com Denis Lavant inspiradíssimo, uma trama na verdade muito simples com um tratamento único e nada simples (como disse o Filipe em um certo momento, só na França para acharem que aquilo era um filme de roubo), Carax impressionando na maneira como filmava os atores que pareciam pulsar em cena, e uma das cenas mais lindas do cinema, com Lavant correndo pelas calçadas ao som de “Modern Love” do Bowie (canção cuja letra fora postada nesse blog alguns meses atrás). Ah, é claro, tem também os pézinhos da Juliette Binoche, o que convenhamos, é de suma importância.

Aí veio a experiência extra-cinematográfica chamada A Cat in the Brain (ou Un gatto nel cervello no bom italiano), do Fulci. Se de certa forma talvez ainda me pulsasse alguma dúvida sobre a genialidade deste grande cineasta, ela foi sanada enquanto tinha a experiência de ver este filme. Se emaranhando no rol dos grandes cineastas que colocaram a ficção em questão sem abandona-la, Fulci vai mais adentro, ele coloca de fato a si mesmo em questão, se pondo como o próprio protagonista em crise. Colocar a ficção em crise não significa se ver livre dela; mais ainda, é um filme sobre o próprio Fulci. O grande ator de Fulci aqui mais do que nunca irá se revelar ser o próprio Fulci. Sem qualquer pudor de se expor como figura emaranhada dos pensamentos mais grotescos – de certa forma este é um de seus filmes mais pesados em termos de violência gore – e um cineasta autenticamente picareta (a seqüência final vem a mente), ele se coloca na figura do autor em questão expondo-se num verdadeiro mar de pesadelos (não a toa o outro título em inglês que o filme recebeu fora Nightmare Concert), o próprio Lucio Fulci em um período de decepções e falta de espaço dentro de cinema, vendo cada vez mais distante os tempos áureos da Fulvia (produtora de Fabrizio De Angelis que os filmes de Fulci ajudaram a criar e que o fracasso financeiro de um próprio filme de Fulci fez ruir, mas também onde realizou boa parte de seus grandes filmes), vendo projetos acabarem virando filmes meia-boca, os recursos e os produtores lhe cortando espaço; não será por coincidência que diversas das cenas que povoam os pesadelos/alucinações de Fulci no filme serão imagens perdidas de filmes deste período pós-Fulvia. De fato ele estava acuado, sobre pressão por si mesmo, só lhe restava a oportunidade de dar um grito, e o fez da maneira mais genial possível: filmou esta obra-prima. Perversion

(este texto continua…)

terça-feira, março 09, 2004

Esta tarde o Filipe disse: “Seymour Cassell é o Guará americano” – tudo bem, por mais absurda que possa soar a frase, dentro de um certo ângulo faz sentido (a maneira como Cassavetes puxou Cassell pra ser ator, ele era técnico nos filmes dele), mas as semelhanças – tirando também o fato de ambos serem gênios – param por aí. Eis que hoje vendo mais uma coisa linda de um certo mestre chamada Uma Aventura na Martinica, descubro nesse filme a verdadeira faceta do Guará nascido em terras estrangeiras: Bogart, o mito. Por mais absurdo que possa soar, vendo o filme faz todo o sentido do mundo.