free as a weird

sábado, novembro 01, 2003

Tô tentando começar a "revolução" já aí à esquerda, espero que não tenho virado paçoca de template.

Estou considerando a sério a mudança do esquema de cotações, mas seria em primeira mão somente aqui no blog (no controle interno eu nem cogito mudar, mas na SnE pode ocorrer). Aí ficaria o basico:

**** - Obra-Prima
*** - Ótimo/Muito Bom (altamente recomendável)
** - Bom
* - Regular/Médio/Fraco
0 (bola preta) - Ruim/Péssimo/Michael Bay/ou que tiver de mais baixo

Por conta da bola preta eu talvez tenha de imitar o Paulo e clonar as estrelinhas da contra. Ou não. E obviamente aquele dia eu cometi uma cagada e chamei Los Olvidados de Los Olviedos - errinho de espanhol, digamos, hehehe. Enfim correção concebida.

Último e derradeiro post:

Naquele Dia, de Raoul Ruiz (França/Suíça, 2003)
***

Confesso que é somente o terceiro Ruiz que vejo, e que os anteriores que vi não me eram tão animadores (Genealogias de um Crime bonzinho, O Tempo Redescoberto não gosto nem um pouco), mas o Filipe sempre me disse que esses eram do mais fracos. Em Naquele Dia pude reconhecer alguns traços do cineasta que definitivamente eu não havia nos anteriores, ainda que ache que Ruiz, em uma espécie de homenagem a Mario Bava, fique por demais satisfeito com a brincadeira (o filme é consideravelmente engraçado), e perca a chance de buscar um formalismo mais interessante nas imagens. Ainda assim, desceu bem.

A Volta do Filho Pródigo – Os Humilhados, de Jean-Marie Straub e Daniélle Huillet (Itália/França/Alemanha, 2003)
***1/2

É um tanto difícil falar sobre o filme de Straub, a se julgar que se exigiria um conhecimento bem melhor não só da língua italiana, mas como também da literatura de Elio Vittorini. Ainda assim, acho terrível ver uqe muita gente tente basear as defesas do filme meramente no conteúdo político – que nem por isso deixa de se fazer presente – quando há todo um cuidado com a imagem que vai muito além da mera palavra dita. Foi o campeão de retiradas (saiu quase meia sala), sendo que o filme tem 64 minutos. Destaque também pra um sujeito no fundo da sala que resolveu flatular em plena última e melhor cena do filme, hehehe.

Um Filme Falado, de Manoel de Oliveira (Portugal/França/Itália, 2003)
****

Acho que não tinha melhor maneira de fechar a mostra, e se não chega a ser o melhor filme da mostra, não é um filme menos emergencial. Oliveira começa o filme como se fosse uma de suas obras mais calmas, mas aos poucos tudo vai rumando pra um lado cada vez mais pesado, até o derradeiro e impactante final, que põe o público diretamente na mesma situação de John Malkovich. Falado nas mais diversas línguas (do português ao grego, passando por francês, italiano, inglês...), Oliveira oferece uma chutada no balde como poucas. E pra um homem de 94 anos, Oliveira filma como um menino de 12.

Fechando, a lista com os 10 melhores:

Elefante
Adeus, Dragon Inn / Vai e Vem
Encontros e Desencontros / Um Filme Falado / O Signo do Caos
A História de Marie e Julien
Falando de Sexo
Prova de Amor
Demonlover / A Volta do Filho Pródigo – Os Humilhados

quinta-feira, outubro 30, 2003

Drifters – a Deriva, de Wang Xiaoshuai (China/Taiwan, 2003)
**

Fraco melodrama que têm como seu maior empecilho justamente não querer se assumir como tal. Os primeiros 15 minutos dão uma impressão promissora, em especial uma cena onde o protagonista e uma mulher adentram a casa, no entanto vai caindo progressivamente quando entra em cena o menino, e vai caindo em obviedades bastante incomodas (como a cena do “papai”).

Querendo ir Para Casa, de Martin Scorsese (EUA, 2003)
***

Admito que eu esperava mais do documentário de Scorsese, apesar de que seja impossível negar que o fato de seu filme ser o episódio introdutório da série acaba por não abrir tantos espaços. Tenho problemas sérios em especial com toda a parte passada na África, mas nada que atrapalhe o mais importante aqui, a música.

Adeus Dragon Inn, de Tsai Ming-liang (Taiwan, 2003)
****

Fantasmas vagam no cinema, a cena do banheiro, “eu sou japonês” – “sayonara”, o filme refletido nos olhos do ator, os desencontros, e acima de tudo, o cinema vazio; o segundo melhor do festival.

A Captura dos Friedmans, de Andrew Jarecki (EUA, 2003)
**1/2

Documentário interessante bem mais pela maneira como faz uso dos vídeos caseiros e da tentativa de se distanciar de uma solução para o caso, mas que peca por fazer uso em excesso de trilhas melosas e de tentar conduzir por demais o espectador através delas. Junto a isso uma estrutura bastante simples, e que por momentos parece até arriscar alguns maneirismos bobos, mas que nunca se concretizam de vez. Bem mais interessante do que necessariamente bom.

Peço desculpas pelo atraso, que se deu mais por vagabundagem. Os últimos dias foram calmos, vi bem menos filmes - salas lotadas e sono excessivo são os culpados. Filipe foi comprar ingresso pro Dogville às 11h e ainda assim não conseguiu (a fila dava voltas no Arteplex), sendo que são duas salas. Eu emendei direto na cama em casa - fiquei acordado até depois do amanhecer, entre outras coisas pq o Ruy ia embora às 5h, então ficamos conversando. Eu pretendia ainda encarar o filme do Sokúrov (que a maioria do pessoal concordou ser o pior do festival), mas lotou também; a opção final era o filme do Jim Sheridan, mas resolvi que seria melhor fechar o festival com a imagem do Malkovich chocado.

segunda-feira, outubro 27, 2003

Temendo que as pessoas não entendam muito bem as minhas cotações, resolvi colar o sistema que está lá na SnE, que é o mesmo que uso desde 97, nos idos em que comecei minha tabela no excel.

**** - Excelente
***1/2 - Muito Bom
*** - Bom
**1/2 - Regular
** - Fraco
*1/2 - Ruim
* - Péssimo

Fazendo paralelos então, em especial com o da Contra:

O meu quatro estrelas não é necessariamente o quatro de lá, onde a cotação é reservada somente a obra-primas, enquanto o meu é para o excelente, mas não necessariamente o-ps. O três de lá que é algo como altamente recomendável inclui os quatro que não são O-P, + todos os ***1/2, e os melhores ***; de forma geral, o ** de lá, o filme "bom", é basicamente o *** meu; o * de lá, o filme médio/fraco, fica no meu ** e **1/2; e a bola preta de lá, é *1/2 e * meu. A coisa não é tão esquemática, existem variantes, especialmente naqueles que "dançam" entre as estrelas na corda bamba, mas é algo perto disso.

De certa forma a minha cotação é tão exageradamente detalhada (ou seja, cheio de "meias") porque elas nasceram de forma geral para as tabelas, onde não há texto, apenas a cotação, logo para controle interno é bem melhor uma cotação mais ampla para que eu me guie - inclusive muito melhor para classificar, ou fazer listinhas. Já para textos, confesso que se eu não fosse tão apegado ao meu velho esquema que uso há tanto tempo, acho que o esquema mais "seco" funciona bem melhor, ou até mesmo pra um quadro de cotações. Tudo isso porque o Paulo mudou de blog, agora como Los Olviedos, e o sistema de cotação também ficou mais simples; e agora ele está longe do mundo do weblogger, o que eu recomendaria a qualquer pessoa que pretenda ter um blog, hehe.



Distante, de Nuri Bilge Ceylan (Turquia, 2002)
**

Na saída do filme, aguardei um pouco os amigos Sérgio, Bruno, Chiko, Ruy e Filipe falarem, e logo berrei: “é uma merda!”. Lógico que eu estava exagerando, e minutos mais tarde já havia mudado o tom pro “fraco”. Mas é aí constitui-se o grande problema acerca de Distante; o filme foi tão bem falado em Cannes, e em todos os fetivais por onde passava, com Valente (que encontrou com a gente logo depois para cervejada) e Rosenbaum elogiando o filme e tudo, que de certa forma eu criei uma expectativa bizarra, e o filme é o mais normal possível que o academicismo de arte (pois é) pode oferecer, com todas as obviedades e planos poucos criativos imagináveis, com cenas péssimas como a do cara observando a mulher e quando ameaça ir falar com ela, surge o namorado. Acho os atores esforçados, e têm algo no filme que sempre atrai meu interesse, que é a entrega de Ceylan ao filme, mas fora isto, gosto realmente muito pouco do filme, e puta que o pariu, aquele cigarrinho final com a idéia da comunicabilidade apenas à distância dos parentes é consideravelmente baixo.

Recordações da Casa Amarela, de João César Monteiro (Portugal, 1989)
****

Este é o que chamou a atenção internacionalmente para o Monteiro, e pudera, é um filme genial. Seja a música do bacalhau, seja o Vá, de-lhes trabalho, seja Monteiro saindo de uma catacumba ou dizendo pentelhinho, pentelhinho, é maravilha pura.

Aposta Cega, de Li Yang (China/Hong Kong, 2003)
***1/2

Devo discordar de um amigo; Aposta Cega passa certamente pela situação financeira, mas acho que não é exatamente onde Li Yang quer chegar. Não dá para negar que a partir da metade do filme em si, se estabelece que o filme narrativamente irá entrar em algo meio óbvio, com a cutucação do amigo mal, e o menino inocente – mas a maneira como Yang trabalha o filme, acaba por subverter de certa forma o draminha em algo bastante interessante, e a maneira como filma, na maioria das vezes com câmera na mão ou quase isso, acaba por de certa forma ajudar bastante neste aspecto. E Aposta Cega não deixa de ser um filme bastante amargo, sem uma música na trilha, começa ao som da mina, termina com o som de um corpo sendo carbonizado, mesmo após os créditos subirem. Acho as cenas dentro das minas bastante boas, inclusive no que elas têm de pouco trabalhadas, acabando por interagir muito melhor com o espaço do que ocorreria com um excesso de trabalho.



A História de Marie e Julien, de Jacques Rivette (França, 2003)
****

Filme de fantasma+Emanuelle Béart pelada+nevermore+aquele final+mise en scène Rivettiana = obra-prima. Ah, vão ler a critica do Filipe, vão... Hehehe.



Prova de Amor, de David Gordon Green (EUA, 2003)
***1/2

Romance filmado em scope? Pois é. E é bem usado pra cacete. Partindo de um fiapo de premissa que podia dar desde um episódio de Malhação à um subplot da novela das oito, David Gordon Green criou um filme bastante bonito, que foge ao mesmo tempo que não têm medo de se aproximar de uma obviedade – existem sim os coadjuvantes, e alguns deles podem soar esquemáticos, mas Gordon Green os trabalha de tal forma a permitir com que ou não incomodem, ou sejam algo a mais que uma mera “função” ao filme. O final em particular, é realmente fodaço. E a trilha é bem legal.

Com o tempo sobrando (não, eu que resolvi passar a noite acordado, tosse maldita), resolvi cubrir dois dias de uma vez só, devendo agora só sábado/domingo. Tripla cervejada: na sexta após Distante, no Sujinho foi uma autêntica, mesmo com as debandadas mais cedo, eu, Ruy, Bruno e Chiko ficamos até o amanhecer por lá. No sábado a coisa foi mais morna, apesar de eu ter conhecido o Junior e ter reencontrado o Gilberto (que já foi embora até); foram uns poucos chopps (três, acho), e não ficamos até muito tarde, nem tanto uma questão de falta de animo, e mais fisíca/financeira. Domingo já foi algo meio improvisado, já que eu e Filipe planejavamos lanchar apenas, mas como sempre as paradas no BH acabam virando cerveja, mesmo no domingo - foram só quatro garrafas (embora na minha conta tenha sido quatro copos). E o momento do dia foi o Cakoff apresentando o Tsai, e dizendo que seu ator "fetiche" estava lá também, daí vem o Lee Kang-sheng com uma camisa rosa bordada, hehehe. Como disse o Junior (que não estava lá, mas escutou nossas descrições), "confirmou nossas desconfianças", hehehe. E o Kang-sheng faz curiosamente um dos poucos personagens hetéros do filme. E tipo, o Tsai é bizarro, se atrapalhou todo para falar, parecia mais timido que eu, e falava ainda mais baixo (tiveram que aumentar o volume e tudo).