free as a weird

sábado, novembro 06, 2004

Vamos lá, foram duas semanas intensas do circuito cinema-escrever-cerveja, sem ordem exata, algo de massivo mesmo. Peço desculpas senão cubri este ano para o blog como o Sérgio por exemplo conseguiu, poderia ter feito isso durante, mas realmente preferi tirar esse pequeno momento de calma pro pouco de descanso que nos restava. Faço mais ou menos esses pequenos comentários agora sobre os filmes.

Bom, os filmes sobre os quais escrevi para Contracampo não precisam de ser reescritos, leiam lá. Estes são: Antes do Pôr-do-Sol, Buenos Aires 100km, Casa dos Bebês, Música Cubana, Oro Nazi em Argentina, O Revólver Amado, Temporada de Patos, Terra da Fartura, Twist, O Último Filme de Terror, A Volta do Gato e Um Dia Depois do Outro-Golem, o Jardim de Pedras. (há mais textos à caminho)

Enfim, não sei ao certo aí quais os filmes que vou comentar, vou seguir alguma ordem de visão dentro da Mostra em si (saindo de cabines e filmes que passaram aqui vistos no Rio), pois o número é muito grosseiro e seria basicamente impossível de ser comentado aqui.

Comecei a Mostra com VIDA DE ARTISTA, o filme novo do João Batista de Andrade, um cineasta que já não costuma me levantar muito interesse, o filme tem proposta até curiosa – é um documentário em digital onde basicamente João Batista faz tudo em cena – mas isso dura uns dez minutos de interesse. João Batista parece obcecado em filmar a boca das pessoas, por sinal. Plenamente perdível.

TARNATION talvez seja um dos – senão o – filmes mais instigantes do ano, ainda que o ache um bocado irregular. Prefiro o filme nos momentos em que ele fica mais porralouca na sua estrutura ópera rock do que os momentos onde parece mais um documentário familiar mais simples, como na longa cena com o confrontamento do avô. Ainda assim, trata-se de um filme bastante imperdível. ZATOICHI por exemplo é um filme bem menos urgente, mesmo que eu tenda a gostar mais dele. É um filme um bocado estranho e algo que confesso não esperar que o Kitano viesse a fazer agora, um misto de western-samurai com comédia pastelão, parada sinistra. Intraduzível em palavras as forças de algumas imagens, momentos fodas como perceber os conceitos do velho oeste de quem saca a arma na velocidade certa vencer o oponente sendo aplicado ao mundo oriental sem nenhum pudor, ou seja: um filme do caralho.

OS SONHADORES não me é lá um filme decepcionante tendo em vista que já não fui com expectativas graças aos amigos que já haviam visto e também por nunca ter dado mais de duas estrelas pra um filme do Bertolucci mesmo. Não acho que ele fuja tanto aos trabalhos recentes dele, só que lida mal pra cacete do mesmo jeito com os assuntos que pretende por em questão. Escolhe mal tanto no uso do narrador, como na forma como dispõe seus personagens em cena. Falar então da patetice que é as citações sendo cortadas para as imagens dos filmes citados? Acho que sobrevive pelo mínimo de exploração de espaço que Bertolucci ainda faz com a câmera, mas olhe lá.

Embora não seja um entusiasta de LA NIÑA SANTA, compreendo tudo aquilo que os amigos vêem no filme. Gosto pra caralho de muitas coisas que estão ali em cena, mas confesso desgostar de algumas outras. Me incomoda tratamento de alguns personagens, mas acabava sempre me interessando mais em concentrar-me nos corpos sendo filmados de forma brilhante pela Lucrecia. Caso complicado ao qual pretendo rever amanhã, se eu acordar em tempo. MÁ EDUCAÇÃO nesse sentido é outro filme de expectativas fortes mas indecisas – gosto muito dos últimos filmes de Almodóvar, sobretudo de CARNE TREMULA, mas sou pouquíssimo entusiasta de boa parte do resto da carreira dele do que tive acesso. Este não me foi um passo necessariamente para nenhum dos lados, mas rumo há um novo caminho pro cinema do Almodóvar, o que me é de muito interesse especialmente se o cara continuar filmando do jeito que anda. Gosto do lado filme B disfarçado que me soou no filme, das brincadeiras narrativas e me soa o filme mais absolutamente over formalista do cara, o que supre a parte da infância que me é a de menos interesse do filme. Ainda assim, acho um belo filme (e aquele paixão voando contra a tela é genial).

Dois filmes instáveis que foram de algum interesse são CONFIDÊNCIAS MUITO INTÍMAS e WHISKY. Vistos em seqüência – sem se quer sair da sala – causam ambos o impacto de uma curiosidade a cerca de seus tratamentos para propostas que se distintas entre si, se assemelham na forma como eu as recepcionei. WHISKY, uruguaio de Pablo Stoll e Juan Pablo Rebella, me é de muito mais força sem qualquer dúvida, e um bocado mais crente nas suas idéias toda-vida, enquanto o filme de Patrice Leconte é um tanto lugar comum, mesmo que em algum momento me tenha cruzado a sensação de que dali poderia ter saído algo. WHISKY me é mais um pé no saco – de Aki Kaurismäki já me basta o próprio, ultra repetitivo mesmo que com forte interesse – do que um filme desinteressante, enquanto CONFIDÊNCIAS é de fato um filme problema certinho demais pra ser verdade.

EXÍLIOS foi uma das surpresas da Mostra, fui com mínimo de expectativa e realmente me interessei um bocado pelo que vi. Há um quê bizarro que não sei como definir no filme, algo do tipo cinema cigano, que filmado como tal me foi bastante forte. Há momentos de menos interesse, mas que são um zero quando se tem cenas como a da reconciliação com as maçãs. Filme que eu gostaria de rever e escrever sobre, ainda que goste bastante do texto do Peerre que está no ar na revista.

Meio estranho abrir um dia com ESTRADAS PARA KOKTEBEL, já que está mais pra um filme em que se tira uma soneca no fim do dia de Mostra do que qualquer outra coisa. Como estive anti-sono na Mostra só vindo a dormir no primeiro dia de repescagem em algum filme, ao KOKTEBEL sobrevivi. Confesso que gosto muito pouco do filme, me irrita um bocado diversos planos, em especial no último terço de duração. Mas ainda há algo ali perdido que me parece mais próximo do trabalho com os atores do que necessariamente com a câmera que gera algum tipo de interesse, mesmo que amassado em meio há muitos desinteresses. Agora numa dia onde você encara PROCURADAS, um clássico instantâneo do cinema trash, nada pode te parecer tão ruim. É uma grosseria em todos os sentido cinemáticos possíveis, assustador e hilariante da mesma forma. Filme pra você rachar o bico ou sair correndo desesperado.

Em primeiro momento, é isso, quase duas páginas inteiras do Word. Comento mais nos próximos dias.