Peru 1 x 1 Brasil (Peru, 16/11/2003)
Inusitadas a parte, vou tentar me ater ao espetáculo. Se ausência de um time em campo contra o Equador parecia um prenúncio, nesse jogo se confirmou. Era quase bizarro ver o que ocorria em campo. Se os zagueiros baterem cabeça é algo até normal – e isso mesmo dentro da última Copa se viu diversas vezes – ver o Dida errar o tempo da bola duas ou três vezes nessa que vinha sendo a melhor fase da carreira dele, foi literalmente assustador, em particular aquele lance que ele saiu saltando e simplesmente nem resvalou na bola, que por sorte encontrou um zagueiro brasileiro. Nunca fui maior fã do Emerson, mas venhamos que ele não costuma fazer partidas tão omissas; tão pouco Gilberto Silva, que além de ter marcado mal, o que é raro, fez até jogadas violentas, o que passa ainda mais distante do seu estilo. Além de omissos na marcação, foram uma negação no apoio.
Junior variou, mas em alguns momentos foi a frente, e costumou ir bem na marcação atrás – foi um dos poucos jogadores que eu gostei. Cafu deu uma melhorada com a entrada do Renato no segundo tempo, mas antes disso fazia uma partida bastante atípica, onde não fazia nada direito e dava ponta pés. Zé Roberto foi uma negação, do início ao fim, e um dos responsáveis pelo péssimo desempenho do meio de campo, visto que seu papel de ligação com o ataque é importantíssimo. Sobra então os três jogadores de frente, que pareciam pertencer a outra equipe. Se o Ronaldo pareceu em vários momentos acima do peso e meio desajeitado (o que não é normal), ainda que conseguindo alguns lances que só ele sabe fazer, Káka e Rivaldo jogaram ambos muito bem (o segundo me foi uma surpresa, visto que detestei todas as últimas apresentações dele), e mostraram um surpreendente entrosamento (certo, eles jogam no mesmo time, mas Káka treina no titular, e Rivaldo no reserva). Mas como raramente os chutões do Dida (pois é, boa parte das jogadas do Brasil vinham de chutões!) chegavam para um jogador brasileiro restou uma negação.
Pra complemento, Parreira comprovou mais uma vez que é o grande comédia do futebol nacional. Além de ter saído de campo dando uma entrevista bizarra, onde parecia ter assistido um jogo por completo diferente do que vimos (ou ele têm uma idéia um tanto estranha do que é uma boa partida), como disse Casagrande na transmissão, chega a ser um absurdo o cara treinar substituições! São de fato sempre as mesmas, tal qual foi-se adivinhando. E ele ainda têm um péssimo costume que a substituição “mata-jogador”, onde ele põe um cara que a torcida esteja anciosa para ver em campo faltando uns 7 minutos pra acabar, ocorreu antes com Diego e Alex, ocorreu hoje com Luis Fabiano – fica fácil para ele: se o cara virar o jogo no fim, ele fez uma ótima substituição na hora certa, se o cara não fizer nada (o provável pelo tempo restante), é porque ele acertou em não por o cara antes. Assim, fica difícil. E ainda têm o amigo que o Parreira pediu pra Deus, o Zagallo, que vira pra ele, com um time acoado e não jogando bulhufas, e diz: “não mexe agora não”. E acho besteira dizer que foi a ausência de Roberto Carlos e Ronaldinho Gaúcho que fizeram diferença, os seus substitutos foram dos melhores em campo. Acho inclusive que o ataque do Brasil funcionou melhor hoje que nas outras partidas das eliminatórias, mas enfim, dar tempo ao tempo, sempre.
Também não fiquemos só no Brasil – a cobrança claro é maior, por virtude de torcida e também de certo título conquistado no ano que passou – o tal time do Peru ta longe de ser o time que a torcida deles pintam. Mas pra quem passou a última década com aquele time que eles tinham, de fato deve ser um grande avanço. O time deles tenta tocar a bola, o que é legal (o Brasil deveria fazer isso, mas enfim, inclusive porque é estilo do Parreira), mas não são muito bons nisso, perdem a bola fácil, mas no meio campo marcam bem (o que não ocorre na defesa), então como o Brasil parecia estar sem meio, roubavam a bola fácil. Mas enfim, eles tiveram uma porção de chances, e perdiam tudo por incompetência de boa parte da equipe. Eles têm três jogadores bons, Solano, Pizarro e Palacios, e dependeram diretamente destes. Como o Brasil marcava mal, vez ou outra eles apareciam bem, mas se prendiam demais ao cruzamento na área, apesar do gol ter saído da insistência (e do fato dos zagueiros brasileiros não estarem saindo do lugar). Enfim, o Peru procurou mais o jogo, mas ta longe de ter feito uma partida boa, pelo contrário. Quem perde tantos gols têm mais é que se preocupar.
Em último adendo, nada a ver com o jogo em si, mas sim com a transmissão. Galvão Bueno adentrou mais a fundo no mundo dos retardados mentais. Ele enche o peito para dizer que o Ronaldo deveria processar a imprensa de Lima, porque estariam sendo agressivos com ele no caso de sua separação, sem perceber que nos quinze minutos que antecediam tal momento, ele tinha sido tão agressivo quanto ao povo peruano (sempre tentando atenuar dizendo que era bonito a “paixão” deles) quanto qualquer repórter de Lima. Sem contar que é obvio que a coisa ocorre tanto lá quanto na Espanha ou no Brasil. E o Galvão mais uma vez merecia uma picareta na cabeça, dada pelo Falcão, quando ele o cobra quanto a presença de Rivaldo no banco do Milan – até parece que o Galvão nunca aprendeu bulhufas em anos assistindo jogos. O Milan é uma seleção, se você não se adapta a ela de jeito nenhum, você não joga, o time lá não se adapta ao jogador como costumam fazer no Brasil, é estrela demais pra isso. Por isso o Káka deu mais sorte, tal qual o Serginho que é obviamente inferior ao Rivaldo, mas consegue entrar em campo porque se encaixa no esquema. Enfim, eu deveria estar acostumado.