free as a weird

sábado, outubro 25, 2003



demonlover, de Olivier Assayas (França, 2002)
***1/2

Possivelmente o filme que vi mais gente com cara de “ué” no final, o filme tem momentos geniais (Chloe Sevigny e Connie Nielsen do nada começando a falar inglês misteriosamente, e de repente voltando pro francês; Charles Berling com a Connie Nielsen na cama – também um dos momentos mais asquerosos – ou comprando hentais), embora eu deva admitir que está longe de Irma Vep, que em especial a primeira meia-hora me deixou seriamente em dúvida quanto a se eu iria se quer gostar do filme, o que Assayas logo mostraria o caminho. Acho também que o filme bebe demais de fontes (estruturalmente de Videodrome, em alguns outros aspectos de New Rose Hotel), o que de certa forma acaba incomodando em alguns momentos (em especial a relação Connie Nielsen/Debbie Harry). Todavia, segue sendo um belo filme.



Vai e Vem, de João César Monteiro (Portugal, 2003)
****

Obra-prima póstuma do Monteiro, é possivelmente também seu melhor filme – é quase uma síntese de seu cinema. Fica claro em vários momentos do filme que o Monteiro filmou ele sabendo que ia morrer, e que isso poderia acontecer até antes do público poder ver o filme (como aconteceu). Há uma porção de momentos que merecem destaque (e como Monteiro fala nesse filme, é impressionante, é como se ele quisesse deixar um diariozinho dos “últimos pensamento de João César Monteiro”), mas o “prefiro morrer ao ar livre” com a imagem final do olho logo em seguida, são impressionantes e entram para a galeria dos momentos mais fortes da história do cinema.

sexta-feira, outubro 24, 2003

Vai sem foto pq não quero ter que por foto p&b de filme colorido de novo:

O Último Mergulho, de João César Monteiro (Portugal, 1992)
****

Pra alguém acostumado com os filmes do João de Deus, esse foi um susto – não é menos bom, de maneira alguma, mas é bastante diferente, e mostra que a genialidade do Monteiro vai ainda além. O filme é basicamente um homem em sua última missão: dar a b... mais linda do mundo para um rapaz suicida. O final com os dois no meio de uma porrada de girassóis com um som de mar no fundo, é genial.

Golpe de Estado, de Kiju Yoshida (Japão, 1973)
***

Minha estréia em Yoshida foi meio decepcionante. O filme é bastante interessante, e muito bem filmado, mostrando que Yoshida têm uma capacidade impressionante de enquadrar. No entanto, acho que o Yoshida pesa a mão demais na maneira de tratar o tema, dando um tom meio questionável ao filme. Mas é bom.

Mulheres no Espelho, de Kiju Yoshida (Japão, 2002)
**1/2

Último filme do Yoshida, acabou caindo justamente no que eu menos gostava em Golpe de Estado. Os enquadramentos aqui já não me interessaram tanto, tão pouco o tratamento do tema (que tenta emular a bomba de Hiroshima, ao mesmo tempo que faz uma espécie de panorama da mulher no Japão hoje), e Yoshida aqui pesa o tema afundo. Apesar das boas atuações e da boa fotografia, fica por demais óbvio e dispensável.

Cobrindo agora os filmes de terça (sim, aquela programação que coloquei foi completamente alterada), valendo dizer que foi o meu dia "retrospectiva", a se julgar que todos fazem parte dela (apesar de que o Mulheres no Espelho tal qual Vai e Vem não são bem "retrospectiva").

quarta-feira, outubro 22, 2003

Os textos estão mais curtos (ou simplesmente capados, como o Monteiro) porque o tempo tá muito curto. Vou deixar as retrospectivas junto ali no canto dos outros filmes da Mostra, mas é importante lembrar que elas não entra para a escolha dos melhores da mostra. Ainda estou dois dias atrasado com os comentários, mas correrei contra o tempo.



Desculpa o atraso com os textos.

A Comédia de Deus, de João César Monteiro (Portugal, 1995)
****

Um dos maiores filmes da década.

Gozu, de Takashi Miike (Japão, 2003)
***1/2

Impossível de se descrever, um verdadeiro freak show levado as últimas conseqüências, filmado com tal precisão e coragem, que faz do filme imperdível.

A Música Mais Triste do Mundo, de Guy Maddin (EUA, 2003)
***

Mais um bizarro, um verdadeiro exercício no tal (ao contrário do Miike, são dois tipos de bizarro bem diferentes), Isabella Rosselini sem pernas, ganha pernas de vidro... cheias de cerveja! A historinha por trás do filme é um tanto boba, mas o filme têm força o bastante para sobreviver a ela. Além do mais, Maddin leva o filme até o fim levando tanto a sério, que é impossível não aplaudir sua coragem.

terça-feira, outubro 21, 2003

Eu sei que ontem não coloquei a programação, mas é que a hora que escrevi o comentário do Funeral Yakuza eu já tinha até visto um dos filmes do dia. Então entra a programação desta terça:

12h - A Bacia de John Wayne - DirecTV 1

Obs.: Só verei se eu estiver com muita coragem. Têm de se sair de caso uns 20 minutos ou mais (preferência) antes, logo acordar antes das 11, e isso pra saltar da cama de uma vez. Não importa o quanto eu esteja afim de ver filmes do Monteiro, é um horário muito tosco. Se eu não ver ele, substituo por outro Monteiro em outro dia (ou até mesmo hoje).

18h10 - Hoje e Amanhã - Unibanco 1
20h40 - O Desaparecido - Arteplex 2

É isso aí. Um dia meio arriscado, mas se faz necessário. O mais bizarro foi do dia de hoje (ontem) foi ter encontrado com o Chiko (o do Quarto) e estar ainda tão zonzo com o Gozu que se quer notei que era ele (o Filipe me falou um pouco depois, e eu "ué, ele tava aí?" hehe).

Comentário rápido e curto, porque ta tarde pra cacete e eu to um dia de Mostra atrasado.



O Signo do Caos, de Rogério Sganzerla (Brasil, 2003)
****

De certo que boa parte da sala só não debandou no meio do filme porque o homem e família estavam presentes, ao contrário da maioria dos casos, não os culpo; O Signo do Caos é um filme doloroso de se assistir. E veja bem que doloroso nada tem a ver com chato; a maneira como o filme é montado – e deve se dizer que se trata de uma das melhores montagens da história do cinema – trás ao filme um tom angustiante e realmente difícil de se assistir, até mesmo para o público que já aguardava algo próximo daquilo. A segunda parte do filme em colorido onde se ocorre a festa, é conduzida como uma bala penetrando a carne. É impressionante o domínio de Sganzerla em relação ao filme, não só em relação a montagem e enquadramentos, mas de uma maneira geral, um trabalho exímio de direção. Se o filme possa soar amargo (e ele o é), não é menos obrigatório por isso.

Amanhã comento meu dia mondo bizarro, que abriu com A Comédia de Deus, seguiu com um dos filmes mais bizarros já feitos (Gozu) – e olha que eu sou “da área” –, e fechou A Música Mais Triste do Mundo, que não está tão distante em termos de estranheza.

segunda-feira, outubro 20, 2003



O Funeral Yakuza, de Hideyuki Katsuki (Japão, 2002)
***

Ao contrário do o termo “yakuza” possa sempre ecoar, trata-se aqui de uma comédia. O diretor Katsuki rapidamente mostra que consegue escapar de um esquema mais tradicional estético; ele faz humor através da câmera, muito mais do que qualquer outra coisa. Logo se faz uso de vários artifícios como câmera na mão, sempre em movimento, um uso da trilha que dá um tom quase musical, em especial a primeira metade do filme. Nessa primeira metade, mistura-se um tom quase que histérico, que entra num terreno perigoso, mostra bastante autenticidade e eficiência nas mãos do diretor. A partir da metade, que é quando vemos como o protagonista, Hitomi (Toshiyuki Matsuda), havia entrado para a Yakuza (e como o filme e o protagonista passam de ver o local como uma grande piada para um certo sentimento de respeito), entra a segunda parte, que se concentra no funeral em si, quando Hitomi têm de organizar uma grande celebração após a morte de seu chefe e mentor, mesmo sabendo dos problemas com inimigos e imprensa que aquilo lhe traria. O filme começa a ficar consideravelmente mais comportado, tanto esteticamente quanto no humor, e cai bastante nesta segunda parte, tendo somente alguns ecos na relação de Hitomi com um novo garoto (ecoada obviamente por sua relação com o falecido mentor), e na atuação de Matsuda, que acaba segurando um pouco a segunda metade. O final é em particular bem interessante, com Hitomi concluindo enquanto transa ao ar livre com uma jornalista que queria acesso ao funeral, o vai e vem do ramo. Fica no fim uma idéia de como tudo é bem mais interessante no caminho ao topo, do que exatamente quando se está lá. Pena que o filme seja irregular.

Peço desculpas novamente pelo atraso com comentário, mas a Mostra é assim mesmo. Ontem consegui ver os dois filmes; o Sganzerla resolveu impedir mesmo que o filme passasse na 1, pela ausência do ar condicionado; a solução foi simples, inverteram com o filme que seria exibido na 2, e passou tranqüilamente, com presença dele e família. Sai de lá pouco depois da meia-noite, transtornado com o maldito Filipe que não tinha ido – acabará de perder um filmaço, ora, e sei que agora ele só verá quando entrar em cartaz – cheguei em casa e ele descansava, já no computador, e tomou um susto quando eu disse que a sessão rolou, porque haviam lhe garantido que não iria ocorrer... Tsc, tsc.

domingo, outubro 19, 2003

A programação de hoje é de noitada, isso se os boatos de que o Sganzerla estaria impedindo que o filme fosse exibido no DirecTV 1 por que tava sem ar condicionado (e quem já foi lá disse que realmente está uma merda ver filme lá) - o meu palpite é de eles exibem o filme... e arrumam o ar. Hehehehe. Ou é a minha torcida, sei lá. Se der zebra, talvez eu veja outra coisa. E preciso rever Lost in Translation, mesmo que seja no Cinearte. Elefante é melhor, mas a última chance de rever foi ontem (depois só em shopping, e distantes) no Cinearte, que passei por lá quando fui com Filipe na central da Mostra, e tava um fila quilométrica (vale dizer que o Cinearte 1 é uma sala enoooorme, então não lotar lá não significa que não tinha mais gente ali que na primeira sessão quando eu vi - inclusive porque sábado no meio da tarde é melhor que sexta de madrugada, hehe). Lá vai:

20h20 - O Funeral Yakuza - DirecTV 2
22h10 - O Signo do Caos - DirecTV 1

E torçam por mim.

Eu realmente fiz um comentário não só mais longo, mas mais analítico que os outros para Robinson's Crusoe porque particularmente é um filme que se eu não for mais em frente sobre, ninguém vai se tocar da existência; nesses casos é realmente necessário que se vá adiante. A foto ficou pequenina porque é a foto melhor que tinha no CD pra Imprensa; têm uma melhor no site da Mostra, mas está em preto e branco, e tal qual é um crime colorir um filme em p&b, descolirir um colorido também o é.



Encontros e Desencontros, de Sofia Coppola (EUA, 2003)
****

A presença do nome de seu pai como produtor executivo não poderia ser algo mais fora do lugar – é a maldição do sobrenome. E acho que como Encontros e Desencontros vai ter um acesso maior do público, o problema será ainda maior aqui do que em As Virgens Suicidas. Encontros e Desencontros é um filme fascinante, não só por um trabalho impressionante com atores (um cineasta com menos tato poderia deixar com que um personagem como o de Anna Faris virasse algo de um retrato meio patético) ou pelo fantástico senso de humor – há algo de fascinante em toda a construção do filme, que obviamente inclui os citados elementos, mas que aqui não brilham sozinhos, mas em conjunto. Bill Murray (que se já costuma ser gênio, aqui têm possivelmente sua melhor atuação, e isso por si só já torna o filme obrigatório), Scarlett Johansson e os japoneses no karaokê é uma das melhores cenas de um cinema recente, tal qual aquele final (e o sussurro!); é difícil descrever o filme. Alias, filmes brilhantes merecem ser vistos, não descritos. O filme entra em cartaz dia 9 de janeiro – mas se você estiver perto de um cinema exibindo ele por aqui e não for ver, estará cometendo um crime. Ah, como pude me esquecer de Murray filmando o comercial de whisky?!? E Johansson, devo concordar com Ruy e ir adiante, mais que musa do festival e mostra, é a musa do ano. E têm a cena da cama. Ah, têm o filme todo, cacete.



Robinson’s Crusoe, de Lin Cheng-sheng (Taiwan, 2002)
***1/2

A melhor maneira de permitir com que Robinson’s Crusoe caia bem é evitar comparações com o cinema de Tsai Ming-liang apenas por serem originais do mesmo país – trata-se de um trabalho bem mais comportado, digamos, sem maiores transgressões, e até por isso também de um acesso mais fácil para um público mais geral. Cheng-sheng realiza um trabalho muito interessante e de uma admiração muito próxima de seu protagonista, o Robinson do título (Leon Dai); talvez até por isso o filme se utilize de muitos planos próximos ao rosto dos personagens (e em especial dele), sem que estes planos soem mal encenados, somente refletindo uma proximidade ainda maior entre autor-personagem. Também a maneira com Cheng-sheng filma em especial o quarto do hotel de Robinson me impressiona – alias, o “deslocamento” no qual se encontra Robinson em reflexo na idéia de que ele prefira morar em um hotel (onde nada fora um peixinho pertence a ele) é bastante interessante. As relações com os personagens acabam se encaixando bem, e fazendo com que aquela idéia mais batida de antisocialidade possa se aplicar aqui, já que embora tenha dificuldades de se aproximar das pessoas (foge de encontros com a namorada, e depois não atende o celular quando ela liga – essa cena é a minha cara, alias, hehe), não deixa de ajudar amigos (a cena em que ele reúne o casal de amigos que havia acabado de brigar é em particular muito boa), ainda que em outros momentos pareça alheio ao mundo. A obsessão de Robinson pela ilha Crusoe é em particular a parte menos interessante do filme, ainda que a idéia funcione no que se propõe ao personagem. Em alguns momentos o filme ameaça cair em algumas soluções fáceis (o próprio clímax em si), mas Cheng-sheng mostra que têm personalidade o bastante para escapar destas. Não é um filme brilhante, mas têm ótimos momentos, e é certamente um filme que vale o esforço se ir ver, visto que as chances de vê-lo em outra ocasião fora da Mostra são consideravelmente pequenas.

Pedindo desculpas desde já por não atualizar ontem, mas saímos as 2 da matina do cinema (vale lembrar que inicio o horário de verão no meio do filme, hehehe), tivemos longo atraso e ainda a exibição de um curta modorrento (na primeira entrevista do documentário a mulher já enfia a câmera no nariz e no olho da entrevistada, não tem musica da Bjork que salve). Depois ainda fomos no Pedaço de Pizza (Filipe e Ruy não haviam jantado ainda), e quando chegamos em casa ainda ficamos conversando até as 4h30, sendo que eles tinham sessão as 13h... Eu ainda me enrolei porque resolvi me reprogramar, troquei alguns horários, porque simplesmente não dava de eu ir ver o Techiné às 13h30, sendo que eu tinha jantado nove e pouco no dia anterior, não iam ficar sem comer, logo teria que acordar meio cedo, e bem, o Techiné entra em cartaz depois. Me re arranjei no dia (resolvi abrir mão do filme do Ash, o Duda falou tão mal do filme que eu realmente fiquei meio assustado). Então daqui a pouco mando os horários de hoje, tal qual os comentários de ontem.